Entrevista com o professor Dr. Severino Lucena Filho

Entrevista: Professor da UFPB fala sobre “O uso do folkmarketing na comunicação organizacional

Wildson Messias*

 

Na última terça-feira (22), o professor Dr. Severino Lucena Filho, que atualmente é professor aposentado da Universidade Federal da Paraíba, esteve na Faculdade de Informação e Comunicação para a aula inaugural do curso Relações Públicas. O palestrante trouxe para os estudantes a temática “O uso do folkmarketing na comunicação organizacional”. Severino explica sua trajetória como pesquisador de culturas populares, cultura organizacional e turismo cultural.

 

 Palestra  Severino

Palestra o professor Dr. Severino Lucena Filho

 

 

RP entrevista: Como você pode definir o Folkmarketing e a Folkcomunicação?

Severino: A Folkcomunicação é uma teoria que nasce com o pesquisador de cultura popular chamado Luís Beltrão, teoria que nasce há sessenta anos com o estudo dos públicos marginalizados pela sociedade. Pois, há cinquenta ou sessenta anos, não eram todas as pessoas que tinham televisão. O meio massivo que predominava era o rádio. Então, como é que eles ao escutar um programa de rádio ou ver um programa de televisão processavam essa comunicação? O Brasil é um país que, principalmente na zona rural, há muitas pessoas não letradas, que não sabem ler, muito menos assinar o nome, mas isso não exclui do processo da comunicação, pelo contrário. Então, Beltrão queria saber como é que essa pessoas processavam essa comunicação, e foi através desse olhar que ele foi buscar a comunicação das prostitutas, dos feirantes, dos índios, dos negros, dos terreiros de umbanda, as festas populares, ou seja, ele queria saber como esse seguimento marginalizado, que não é o marginalizado fora da lei, mas o marginalizado fora do processo de comunicação massiva trabalhava com comunicação, foi dentro desse contexto que Beltrão iniciou os estudos que Roberto Benjamin e outros estudiosos da comunicação deram a fundamentação para esse universo de pesquisa. Eu já venho em uma terceira geração, que é a que olha as abrangências da folkcomunicação. Eu trago o conceito de comunicação para o campo do marketing que chamo de folkmarketing, que é a utilização de elementos da cultura popular ou das culturas populares como integrante de um processo comunicacional, organizacional, que oferece visibilidade aos produtos e serviços tanto no aspecto mercadológico como institucional e dentro desse contexto surge também o folkturísmo e a folkmídia.

 

RP entrevista: Como usar esses conceitos como ferramenta comunicacional?

Severino: A utilização desses conceitos como ferramenta comunicacional, têm como foco o público externo, você conhece a cultura do público externo, o público que absorve os produtos da organização e a cultura também do local para a partir desse ponto criar um processo comunicacional, porque esse processo comunicacional não é estático. Ele é dinâmico. Ele usa técnicas de comunicação. Pode até ser única ou homogênea para determinados processos, mas quando trabalhamos com as culturas populares, esse processo toma outra direção porque varia de região para região.

 

RP entrevista: No universo da comunicação organizacional, qual o caminho a ser seguido para construir uma comunicação estratégica?

Severino: A comunicação estratégica, têm como primeiro ponto o conhecimento do público. Segundo, o planejamento. Terceiro, a valorização da cultura local. Segundo a pesquisa de retorno dessa comunicação, como esse produto, como essa campanha foi absorvida pelo público?  Se você não tem esse retorno, esse “feedback”, através de uma pesquisa de opinião, você não vai poder replanejar o seu processo comunicacional, porque o processo comunicacional por ser dinâmico e ser estratégico, necessita de ser alimentado através dessas pesquisas, desses retornos da comunicação do público.

 

RP entrevista:  Qual é a sociedade industrial que vivemos atualmente?

Severino: Eu diria que nós vivemos na sociedade da informação, é uma sociedade líquida onde as pessoas são egoístas, é uma sociedade onde as pessoas olham para si e são individualistas. Um exemplo dessa realidade, pode se ver quando você chega em um “restaurante desses” , que têm casais e famílias que enquanto o garçom não chega, eles estão “ZAPando” um com o outro. Então pra mim essa sociedade da informação é uma sociedade que está trazendo problemas seríssimos de relacionamento de quebra desse elo que fortalece as pessoas que é o diálogo. As pessoas fazem diálogos, mas através do “zap” e do “face” e isso é muito frio. O bom é poder conversar olhando nos olhos, sentido o cheiro e sentido o calor humano que pode lhe responder.

 

RP entrevista:  Qual o conselho que você deixa para essa nova geração de Relações Públicas?

Severino: Eu não usaria a palavra conselho, eu daria dicas. Primeiro, o profissional de Relações Públicas, nessa sociedade informacional, precisa ser proativo; segundo, atualizado; terceiro, respeitar as diferenças; quarto, conhecer a cultura local; quinto, ser gentil, porque gentileza gera gentileza e a valorização humana. O Relações Públicas, acima de tudo, deve ser um valorizador da cultura humana, das relações humanas. Ele pode usar a melhor técnica possível, o melhor sistema de informação de rede, mas se ele não tiver a “vibe” da humanização, esse processo não perdura por muito tempo, ele pode ser um sucesso efêmero, então é preciso ter cuidado, ler e participar de todos os mementos históricos e políticos culturais de onde você vive também é essencial.

 

 

 

Wildson Messias* é monitor do curso de Relações Públicas.