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Relações Públicas e diversidades: entrevista com Donnalyn Pompper (Ph.D)

Por: Eduardo Martins, Jane Marques, Luis Gustavo Paiva e Sayuri Yoshy. Alunos de PTJ II.

Donnalyn Pompper (Ph.D), Professora Pós-Doutora em Relações Públicas da Universidade de Oregon, foi a painelista internacional do XII Congresso da Abrapcorp, que aconteceu nos dias 14 a 18 de maio de 2018, na Universidade Federal de Goiás, acolhendo reflexões sobre a comunicação organizacional e relações públicas no contexto das diversidades. Conversamos com ela a respeito do papel do Relações Públicas nas organizações a na inserção das minorias no ambiente organizacional.

 

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Você acha que as organizações estão dando maior liberdade para que as pessoas expressem suas identidades?

Depende da empresa, depende de qual indústria as pessoas estão inseridas, algumas organizações, como Bancos, por exemplo, são muito conservadoras. Eles obrigam os homens a usarem ternos azuis, ou pretos, ou cinzas mas, em algumas culturas, você quer usar ternos vermelhos ou  roxos, ou roupas tradicionais da África, como o Dashiki ou mesmo usar seus cabelos de forma tradicional. Algumas afro-americanas alisam os cabelos, mas se querem usar ele natural, não sabem se seria aceitável na organização, então elas sempre têm que perguntar “posso usar isso, posso usar aquilo?”. Então não dá para responder nem que sim, nem que não, depende muito da organização.

Mas as empresas que dizem dar essa liberdade realmente se importam ou estão apenas querendo ter uma boa imagem?

Acho que existem muitas empresas assim, que querem se posicionar mais como “descoladas” e comprometidas com uma audiência mais jovem, mas na verdade não o são. Eu costumo colocar empresas como Starbucks nesta categoria, elas querem ser vistas como joviais e descoladas e acho que elas falham todas as vezes. Os jovens são muito espertos e conseguem perceber quando uma empresa não é verdadeira.

Como fazer para que a profissão de RP seja mais valorizada?

É preciso ter um assento na mesa de decisões, eu sempre falo isso porque se você está jogado no porão, só escrevendo Press-Releases o dia inteiro, seu real valor não vai ser apreciado. Relações Públicas precisam ter uma voz na tomada de decisões para que quando você ouvir outros líderes na organização dizerem “Nós vamos criar um anúncio com uma mulher afrodescendente e ela usará nosso produto e no final ela ficará branca” você precisa ser a pessoa a falar “O quê? Vocês vão fazer o quê? Você tem noção do quão idiota isso é?” e ser respeitado por falar isso, mas isso não acontece do dia para noite, a organização precisa confiar na prática de Relações Públicas e essa confiança não se desenvolverá a menos que esta seja qualificada.

Como isso aconteceu nos EUA?

Tempo. E não acontece com tanta frequência como eu gostaria, leva tempo e depende da pessoa que está na direção da empresa. Nos anos 80 surgiu uma nova filosofia de gestão, chamada “Gerenciar andando em volta”, quando você tem uma organização onde o diretor anda por aí e conversa com as pessoas “Como você está hoje? Como estão seus filhos? Qual seu esporte favorito? O que você achou do jogo do Flamengo?”, assim as relações começam a crescer e se desenvolver e o respeito vem disso. Isso não ocorre rapidamente, mas há mecanismos que podem ser colocados em jogo que fará isso se desenvolver. Acho que essa dinâmica acontece mais em organizações menores, nessas pequenas empresas o funcionário consegue conhecer o patrão.

Como você enxerga a posição da mulher no âmbito político, considerando a campanha presidencial de Hillary Clinton em 2016?

No que se refere à expressividade feminina na política, eu posso dizer que o que é imperativo nos Estados Unidos é o papel da mídia e ela nunca foi muito justa com a Hillary Clinton desde o início da sua carreira política como Primeira Dama dos EUA. A mídia é comandada por homens e eles não aceitam ninguém que não seja um homem como candidato político, então quando tivermos candidatos LGBTQ+ concorrendo nas eleições, coisas podem acontecer.

E no âmbito organizacional, existem poucas mulheres também como diretoras de empresas?

É a mesma coisa, eles não querem ninguém entrando no seu “Clube do Bolinha” e os novos diretores que estão entrando possuem a mesma mentalidade, quando a pessoa se rodeia de pessoas semelhantes a si, a confiança se desenvolve mais rápido, por isso nada de negros, mulheres ou LGBTQ+.