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ABRAPCORP: entrevista com Margarida Kunsch

Wildson Messias

abrap

 

 

Na semana dos dias 14 a 18 de Maio de 2018 ocorreu na Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) o evento ABRAPCORP (Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas). O congresso tem o objetivo de estimular e divulgar estudos avançados no campo das Ciências da Comunicação, na 12ª edição o tema discutido foi Comunicação Social e Relações Públicas: Social-Cultural, Racial, Gênero e Outras”.

A presença de estudiosas como Margarida Kunsch, Cicília Peruzzo e a professora de Relações Públicas da Universidade do Oregon, Donnalyn Pomper, foram destaques dessa edição na qual simboliza a abertura para debates voltados para a temática Social-Cultural, Racial, Gênero e outras em eventos de comunicação.

O coordenador de pós-graduação da FIC, Tiago Mainieri, esteve envolvido na realização da ABRAPCORP em Goiás, em discussão o professor enfatizou que é um tema extremamente contemporâneo e cada vez mais as organizações e a comunicação precisam refletir essa realidade. Ele também disse que o papel da comunicação é acolher, promover o diálogo, o debate, a discussão e enfatizou o papel das Relações Públicas para auxiliar nos desafios da Comunicação Organizacional.

 

Para falar mais sobre o tema do Congresso, Margarida Kunsch, respondeu algumas perguntas para a equipe de Relações Públicas da FIC:  

 

Entrevistadora: Como está sendo a sua experiência agora na Abrapcorp aqui em Goiânia?

Margarida Kunsch: Muito positiva. Aqui que vocês têm um curso de Relações Públicas já consolidado, com programa de pós-graduação também em comunicação que está, ambos o curso de Relações Públicas mais o programa juntamente com a Faculdade de Informação e Comunicação, promovendo e realizando juntamente com Abrapcorp. Então eu acho que é sempre construtivo tanto para quem sedia o congresso quanto para a própria Abracorp ter assim, uma presença fora do grande eixo São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

Entrevistadora: É porque quando a gente pensa em comunicação a gente vai diretamente nesse eixo onde acontecem esses eventos.

Margarida Kunsch: Exatamente, pois é onde se tem o maior número de faculdades e de profissionais da área. Por isso é nossa intenção expandir a Abracorp para um nível nacional.

Entrevistadora: E é engraçado que nós, como alunos, observamos que existe uma diferença na linha de estudo e de pensamento, o que torna a experiência muito rica para todo mundo. O que estudamos aqui em Goiás é um pouco diferente do que se estuda no Paraná, São Paulo. Sendo assim, podemos ter uma visão diferente sobre o que é Relações Publicas em outros Estados do Brasil e de como funciona o mercado.

Margarida Kunsch: Com certeza. As diferentes culturas dão outras perspectivas à profissão e aos profissionais.

Entrevistadora: Sobre o tema do congresso que é: Comunicação Social e Relações Públicas: Social-Cultural, Racial, Gênero e Outras. Como você vê esse tema dentro dessa sociedade complexa na qual vivemos hoje?

Margarida Kunsch: A questão do direito, da acessibilidade, da diversidade, todos os temas ligados às questões das minorias nunca, no sentido amplo ( racismo, questão da mulher, etnias, xenofobias, LGBT) haviam sido tão frequentemente discutidos na história do país. Esses temas estão sempre em pauta, no nosso dia-a-dia, por isso é preciso ter um cuidado no que concerne à comunicação e as falas, principalmente nas mídias sociais, onde reações são geradas. Isso mostra que as redes sociais são uma ferramenta importante no debate sobre esses temas e se, por exemplo, acontece algum fato isolado, ele certamente será discutido por mais e mais pessoas. Além disso, temos também os fóruns acadêmicos, das mais diversas áreas que também trabalham esses temas, seja na sociologia, na comunicação, na ciência política, saúde, psicologia. Até nas artes. Você vê aí que com o politicamente correto ficou mais difícil os humoristas fazerem humor.

Entrevistadora: E esses temas dentro das organizações professora, como você os enxerga nos dias de hoje?

Margarida Kunsch: São temas que também estão ganhando muito espaço, principalmente por que devemos enxergar as organizações como micro-sociedades, ou seja, elas são formadas por pessoas que trazem e vivenciam esses acontecimentos. Então, muitas organizações, principalmente as maiores, já criaram um setor de diversidade, porque são temas que precisam ser essencialmente considerados.

Entrevistadora: E você acha que hoje na prática elas estão lidando bem com essas situações? Elas estão conseguindo ir além da teoria?

Margarida Kunsch: Acredito que sim. Desde o surgimento das redes sociais, com a avalanche de informações, as empresas começaram a experimentar e lidar com as mais variadas informações. No entanto, esses temas ainda são novos e emergentes, e as empresas e os profissionais ainda estão se adaptando na maneira de como agir e reagir a essas situações, principalmente quando se leva em conta a filosofia e a maneira de pensar de cada organização. O que pode acontecer muitas vezes é o despreparo dos dirigentes e profissionais de comunicações. Por serem questões novas, acredito que devemos trazer isso para a formação, por isso, tento trazer essa discussão às salas de aula para que mais pessoas conversem sobre o assunto.

Entrevistadora: Professora, um dos temas de maior discussão aqui no Estado de Goiás tem sido sobre as relações homoafetivas. Com isso, gostaríamos de saber se as organizações têm lidado com esses novos arranjos, envolvendo essas novas relações?

Margarida Kunsch: Ah sim. Acredito que não existe um jeito definitivo de se tratar esses temas, pois eles ainda são novos. Na verdade estamos no processo de assimilação de tudo isso.

Entrevistadora: Professora, podemos citar o caso da jornalista esportiva Fernanda Gentil, onde a mesma terminou um casamento heterossexual para se relacionar com outra mulher. Na época, pelas redes sociais, discutia-se muita a capacidade e a competência da Fernanda como jornalista devido sua orientação sexual.

Margarida Kunsch: Infelizmente nós temos vários casos parecidos. Na USP, por exemplo, na própria escola que dirigi, houve casos dos quais soubemos lidar muito bem e com naturalidade.

Entrevistadora: No âmbito da multiculturalidade, você acredita que as organizações estão preparadas para atuar em cenários de diversidade, tanto culturais, étnicas e religiosas?

Margarida Kunsch: Isso depende muito da filosofia e da política de cada empresa, mas eu diria que a maioria não. Acho que elas ainda estão em um estágio de adaptação a essas novas realidades. Muitas vezes você ainda tem o discurso, mas não tem a prática, como por exemplo, a perseguição à mulher que volta ao trabalho após o período de maternidade. São criados empecilhos para que essa mulher não consiga desempenhar sua função, fazendo consequentemente pedir demissão. Existem estudos que mostram isso, por isso ainda temos muitas empresas que não estão em sintonia com a filosofia de gestão nesse sentido.

Entrevistadora: Eles acabam não enxergando esse lado humano da pessoa, eles querem que ela se torne uma máquina.

Margarida Kunsch: Exatamente. Isso vai depender muito, como havia dito antes, da chefia e dos dirigentes na hora de comandar uma empresa ou uma organização.

Entrevistadora: E sobre o tema, você que percorre o Brasil todo, está sempre em outras universidades, em outros Estados, como você acha que esse tema está encaminhando por todo Brasil?

Margarida Kunsch: Olha, é um tema que está sendo bastante discutido, está sempre em pauta. Para você ter uma ideia, no Intercom em Joinville, isso vai ser bastante discutido, em Costa Rica também, agora em julho, no Congresso da Associação Latino-Americana de Investigadores da Comunicação. Mas assim, sobre o geral, eu não tenho um parecer concreto e definitivo, mas posso dizer que o tema está sendo muito trabalhado em textos acadêmicos, congressos, dentro das universidades, em diversas áreas por todo país. E é nesse contexto que podemos ver o poder das mídias sociais no que diz respeito aos grupos que provocam e trazem a tona esses tipos de debates.

Entrevistadora: E é importante o reposicionamento da comunicação e das marcas. Campanhas que antigamente tinham efeito no público, hoje passam despercebidas ou são taxadas de preconceituosas.

Margarida Kunsch: É o que eu sempre falo: quanto mais exigente e vigilante for o público e a opinião pública, mais cuidado a comunicação tem que ter com o que é passado e transmitido.

Entrevistadora: Professora, para você, qual o papel da comunicação e dos rp’s em específico nesse contexto?

Margarida Kunsch: Primeiramente, acredito que os rp’s tenham que estar dispostos a estudar e aprender e assimilar a nova realidade que estamos vivendo. O profissional de relações públicas tem o papel fundamental, ir além da dimensão de apenas fazer um bom relacionamento e obter um bom resultado, eles precisam pensar no sentido macro, pensar no seu papel na dimensão pública, indo além das fronteiras das organizações. Ele é, sobretudo, cidadão com compromisso junto à sociedade, tendo que se ater principalmente ao relacionamento humano e não a questões midiáticas das outras áreas da comunicação. É uma profissão é difícil, mas também muito bonita.

 

 

Entrevistadores:Joyce Marques; Matheus Vieira.

Produção: Wildson Messias; Renato Mello; Matheus Vieira.

Roteiro: Wildson Messias.